Criptoverso, a próxima disrupção do varejo
A importância que a realidade virtual promete ganhar para o consumo nos próximos anos não significa o fim da experiência nas lojas físicas
Uma entrevista de 1981 com Steve Jobs voltou a circular recentemente pelas redes sociais. Nela, o fundador da Apple fala sobre a iminente revolução tecnológica que os computadores pessoais e telefones celulares trariam para o mundo, e como a sua empresa se preparava para fazer parte disso.
Futurista para a época, a visão de Jobs sobre o impacto dessas tecnologias para a humanidade pode ser comparada a ideia de um varejo interligado às práticas de blockchain, metaverso e criptomoedas, que foram apontadas pela NRF 2022 Retail’s Big Show, o maior evento do varejo do mundo, como as principais tendências para o setor.
A feira, que teve início no último sábado (15), deve receber cerca de 15 mil profissionais do setor vindos de mais de 90 países. Como representantes do Brasil, temos startups expositoras, além de executivos de grandes marcas que participam de visitas imersivas a lojas-conceito, eventos de networking e acesso a palestras sobre as principais tendências. Atendendo às medidas sanitárias, são permitidas no espaço apenas pessoas com ciclo vacinal completo.
Dentro e fora da feira, um dos maiores desafios dos varejistas é entender a aplicação prática do criptoverso em seus negócios. Especialistas reunidos na missão Varejo180 – iniciativa oferecida pela GS Ciência do Consumo com mais de 160 líderes do varejo brasileiro em Nova York – explicam que a experiência no metaverso demanda produtos e soluções pensadas para um ambiente de realidade virtual.
Em outras palavras, não basta replicar os produtos e soluções da vida real para o metaverso. Isso significa a possibilidade de vender tokens não-fungíveis (NFTs) de produtos pensados para um novo conceito de experiência e que serão negociados em criptomoedas, incorporando ainda mais os serviços financeiros ao dia a dia do varejo.
A Nike é uma das empresas que já embarcou no universo dos NFTs. Desde 2019, a gigante norte-americana tem patente para desenvolver modelos de sapatos exclusivos em NFTs, que darão ao usuário maior controle sobre os seus sapatos no metaverso. Será possível personalizar os calçados, definir o limite de cópias disponíveis no ambiente e até permitir que outras pessoas tomem conta dos seus sapatos. Tudo isso gerando muitos dados e personalizando ainda mais a relação dos consumidores com a marca.
Mas a importância que a realidade virtual promete ganhar para o consumo nos próximos anos não significa o fim da experiência nas lojas físicas. Pelo contrário, o phygital (combinação do físico e do digital) deve se consolidar no varejo pós-pandemia, a partir da inteligência de dados, com as lojas assumindo, cada vez mais, o papel de hipersegmentar sua comunicação para engajar consumidores com as marcas.
Na Europa, o setor deve avançar na transição entre publicidade paga (paid media) e geração de mídia orgânica (earned media) e as lojas físicas estão no centro dessa mudança. Segundo o especialista global em Shopper Insights e palestrante da missão Varejo180, Edward Nieuwland, a experiência dos usuários nas lojas é fundamental para a sustentabilidade dos pequenos varejistas, que obtêm margens melhores nas vendas nos pontos físicos na comparação com as vendas via e-commerce.
Entre os tantos desafios do varejo omnichannel, se adaptar a mais esse canal do criptoverso se tornará vital para aqueles que desejam estar à frente na disrupção. As grandes companhias do varejo nacional estão apostando nesse processo, mas a NRF 2022 demonstrou já no seu primeiro dia que existe um universo de possibilidades neste diálogo do digital com o físico, e o metaverso está batendo à porta para entrar de vez no cotidiano das marcas líderes.
Fonte: Meio&Mensagem 17.01.2022