Setor de embalagem surpreende no início do ano
Estimativa aponta alta da produção entre 0,8% e 2% no ano; exceção fica por conta do vidro
A indústria brasileira de embalagens iniciou 2024 com desempenho acima do esperado, considerando-se a maior parte das matérias-primas utilizadas no processo produtivo. No geral, o setor poderá crescer entre 0,8% e 2% no ano, com ponto médio em 1,4%, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre) para a Associação Brasileira de Embalagem (Abre), em linha com as projeções atuais para o Produto Interno Bruto (PIB). Mas em determinados segmentos, como papelão ondulado e latas de alumínio, a alta pode chegar a até 5%.
A exceção fica por conta do vidro, que vem sofrendo com importações e demanda doméstica fraca, insuficiente para absorver a capacidade produtiva adicionada nos últimos anos. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro), o mercado de garrafas e potes andou “praticamente de lado” no ano passado e 2024 segue na mesma tendência.
No geral, a indústria brasileira produziu 1,2% mais embalagens em volume em 2023, com desempenho acima da indústria de transformação, que recuou 1%, segundo estudo do FGV/Ibre. Mais exposto ao mercado de bens não duráveis, o setor tem se beneficiado do consumo doméstico relativamente estável de alimentos e da maior procura por itens de higiene e cosméticos.
De acordo com o presidente do conselho da Abre, Marcos Barros, essa tendência se mantém neste ano. O índice de confiança no setor em fevereiro era o melhor em 12 meses, com otimismo “moderado”. “Os consumidores de embalagens continuam com uma expectativa relativamente melhor. Com exceção de alimentos, todos estão experimentando algum crescimento”, afirmou.
Depois de dois meses de expedições acima do esperado, a indústria de papelão ondulado acaba de elevar as estimativas para 2024. Inicialmente, considerando-se o cenário moderado, a projeção era de alta de 1%. Agora, nesse mesmo cenário, o setor trabalha com expansão de 2,8% nos volumes medidos em toneladas e de 2,9% em metros quadrados.
“O ano começou muito positivo”, disse o presidente-executivo da Associação Brasileira de Embalagens em Papel (Empapel), José Carlos da Fonseca Junior. O novo intervalo, calculado pelo FGV/Ibre para a entidade, vai de 1,2% de alta no pior cenário a 5% no melhor.
Em fevereiro, o Índice Brasileiro de Papelão Ondulado (IBPO) subiu 11,1% na comparação anual, para 145,5 pontos, com 326,7 mil toneladas. Esse foi o segundo maior volume para os meses de fevereiro. Em janeiro, o IBPO já havia avançado 5,3%, a 150,2 pontos, equivalentes a 337,2 mil toneladas – o maior volume para o mês desde o início da série histórica, em 2005.
Para Fonseca, condições macroeconômicas mais favoráveis, com redução da taxa de desemprego e aumento da renda, entre salários e programas de transferência, ajudam a explicar a demanda mais aquecida do que esperado neste início de ano. O crescimento constante do comércio eletrônico e do delivery contribuem.
Soma-se a isso a tendência de substituição de materiais de origem fóssil por insumos mais sustentáveis, caso do papelão ondulado, de outros papéis e cartões. “No computo geral, há uma visão mais positiva e persiste a tendência de migração para materiais de origem renovável, sobretudo entre os consumidores mais jovens”, disse.
Em 2023, segundo estudo do FGV/Ibre para a Abre, o valor bruto da produção de embalagens no país, incluídos os diferentes materiais, somou R$ 144,4 bilhões. Deste total, o plástico ainda respondia isoladamente pela maior fatia, de 33,2%, mas essa participação vem caindo ano a ano. Em 2021, o peso do insumo no valor bruto da produção estava em 36,2%. “O plástico está perdendo espaço no bolo da produção total. As indústrias estão procurando substratos mais sustentáveis”, ressaltou Barros.
Ao mesmo tempo, a soma das participações das embalagens de papelão, cartolina e papel cartão e de papel no valor bruto da produção chegou a 38,7%, à frente do plástico. “Essa tendência de substituição vai deixando marcas importantes e já é visível no varejo”, disse Fonseca, da Empapel.
Isso não quer dizer que a demanda de embalagens plásticas não esteja crescendo também. No ano passado, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief), a produção do setor avançou 2,6%, para 2,224 milhões de toneladas. Um estudo da consultoria Maxiquim para a entidade mostra ainda que o consumo per capita desse tipo de embalagem subiu 2,5% em 2023, para 10,6 quilos por habitante por ano. A indústria de alimentos segue como principal cliente desse segmento.
No mercado de latas de alumínio, influenciado pelo consumo de cerveja, após dois anos de ajustes, houve crescimento em 2023. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas), foram comercializadas 32,3 bilhões de unidades, expansão de 1,65%. A partir do desempenho visto nos primeiros meses de 2024, os fabricantes avaliam como possível um crescimento em torno de 5%.
De acordo com o presidente executivo da entidade, Cátilo Cândido, 2023 foi um período de grande expectativa, após dois anos na contramão da tendência positiva vista em anos anteriores. “Foi um ano que mostraria se continuaríamos na linha da incerteza ou se retomaríamos o crescimento”, comentou.
Em 2021, as vendas de latas de alumínio começaram a sentir a mudança de hábitos do consumidor por causa da pandemia e perderam um pouco de ritmo, mas ainda cresceram 5% (contra 7,4% no ano anterior). Em 2022, veio a primeira retração das vendas em cinco anos, com o clima menos favorável ao consumo de bebidas e a reabertura de bares e restaurantes, que favoreceu as embalagens de vidro. Naquele ano, o mercado de latas encolheu 4,7%.
Em 2023, alguns fatores jogaram a favor da indústria: temperaturas mais elevadas no verão, a queda dos preços do alumínio, o avanço das latas em novas categorias de produtos e o consumidor mais consciente, em busca de materiais mais sustentáveis.
Para a indústria do vidro, segundo o presidente-executivo da Abividro, Lucien Belmonte, 2023 foi “particularmente desafiador”. Segundo ele, em embalagens, há neste momento sobra no mercado brasileiro, diante dos elevados investimentos em capacidade produtiva, que cresceu cerca de 40%, e dos volumes expressivos de importação. “O aumento da demanda que era esperado não aconteceu”, afirmou. Esse ambiente se mantém em 2024, acrescentou.
Fonte: Valor 05.04.2024