Análise térmica aplicada à cosmetologia
Este artigo apresenta a análise térmica para os estudos das propriedades físicas e químicas de compostos e de suas misturas no contexto da área de cosméticos. Os autores relatam alguns trabalhos da literatura em que diferentes técnicas termoanalíticas são usadas na caracterização de matérias-primas, produtos cosméticos e amostras de cabelo.
Thermal analysis applied to cosmetology
Elton Clementino da SilvaI; Maria Valéria Robles Velasco de PaolaII; Jivaldo do Rosário MatosI,*
IInstituto de Química, Universidade de São Paulo
IIFaculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo
INTRODUÇÃO
A análise térmica é definida como “grupo de técnicas por meio das quais uma propriedade física de uma substância e/ou de seus produtos de reação é medida em função da temperatura e/ou tempo, enquanto essa substância é submetida a um programa controlado de temperatura (Ionashiro, Giolito,1980; Wendlandt, 1986; Brown, 1988) e sob uma atmosfera específica”(Ionashiro, 1980; Haines, 1995; Matos, Machado, 2004).
Para que uma técnica térmica seja considerada termoanalítica é necessário, segundo a definição, envolver a medição de uma propriedade física, que essa seja expressa direta ou indiretamente em função da temperatura, e executada sob um programa controlado desta variável (Wendlandt, 1986; Matos, Machado, 2004).
Ionashiro, Giolito (1980; 1988) apresentaram recomendações para as normas brasileiras da nomenclatura em análise térmica, classificando os métodos termoanalíticos em relação a uma propriedade física medida em função da temperatura. A Tabela I relaciona as propriedades físicas, principais técnicas e abreviaturas aceitáveis em técnicas termoanalíticas.
Segundo Wendlandt (1986), as técnicas termoanalíticas mais utilizadas são: TG, DTA seguido de DSC e TMA. De acordo com levantamento feito por Giolito (1988) nos artigos científicos do periódico Termochimica Acta no período de 1978 a 1979, as técnicas mais citadas foram: TG, DTA, DSC e DTG, nesta ordem.
A TG fornece informações com relação às variações de massa em função do tempo e/ou temperatura sob determinadas condições atmosféricas. Os experimentos são executados por meio de uma termobalança de elevada sensibilidade, reprodutibilidade e resposta rápida às variações de massa. As curvas obtidas fornecem informações relativas à composição e estabilidade térmica da amostra, dos produtos intermediários e do resíduo formado. Dada a natureza dinâmica da variação de temperatura da amostra para originar curvas TG, fatores instrumentais [razão de aquecimento, atmosfera (N2, ar ou outros), vazão de gás, composição do cadinho, geometria do porta amostra e tamanho e forma do forno] e relacionados às características da amostra (quantidade, granulometria, forma cristalina, empacotamento, condutividade térmica, solubilidade dos gases liberados da amostra e calor de reação envolvido) podem influenciar a natureza, a precisão e a exatidão dos resultados experimentais (Wendlandt, 1986; Matos, Machado, 2004).
A DTG é a derivada primeira da curva TG. Nesta, os “degraus” correspondentes às variações de massa da curva TG são substituídos por picos que determinam áreas proporcionais às variações de massa, tornando as informações, visualmente, mais acessíveis e com melhor resolução. Apesar da curva DTG trazer as mesmas informações que a TG, ela permite: a partir da altura do pico, à qualquer temperatura, obter a razão de Dm (variação de massa) naquela temperatura; obter as temperaturas correspondentes ao início e final da reação com maior exatidão, e também, na maioria das vezes, calcular a Dm no caso de sobreposição de reações (Wendlandt, 1986; Matos, Machado, 2004). No entanto, em caso de reações de decomposição térmica que ocorrem lenta e gradativamente a curva DTG não mostrará um pico, mas se aproximará de um patamar dificultando a avaliação dos eventos térmicos, uma vez que a derivada de uma constante é nula.
Utilizando apenas a TG é possível, por exemplo: estudar a decomposição térmica de compostos orgânicos, inorgânicos e de substâncias poliméricas; a corrosão de metais em várias atmosferas em temperaturas elevadas; reações no estado sólido; aquecimento e calcinação de minerais; destilação e evaporação de líquidos; pirólise de carvão, petróleo e madeira; determinação de hidratação, volatilização e conteúdo de cinza; determinar a velocidade de evaporação e sublimação, desidratação e higroscopicidade; análises termogravimétricas automáticas; degradação térmica oxidativa de polímeros; decomposição de material explosivo; desenvolvimento de procedimentos gravimétricos analíticos; estudos de cinética de reação, descoberta de novos compostos químicos, assim como determinações de pressão de vapor e calor de vaporização (Wendlandt, 1986; Haines, 1995; Matos, Machado, 2004).
A DTA é a técnica pela qual a diferença de temperatura (DT) entre a substância e o material de referência (termicamente estável) é medida em função da temperatura, enquanto ambos são submetidos a uma programação controlada de temperatura. A temperatura é medida por termopares conectados aos suportes metálicos das cápsulas de amostra e do material de referência, ambos contidos no mesmo forno. As variações de temperatura na amostra são devidas às transições entálpicas ou reações endotérmicas ou exotérmicas. As curvas DTA representam os registros de D em função da temperatura (T) ou do tempo (t), de modo que os eventos são apresentados na forma de picos. Os picos ascendentes caracterizam os eventos exotérmicos e os descendentes os endotérmicos (Wendlandt, 1986; Machado, Matos, 2004).
A DSC é a técnica de análise térmica, na qual se mede a diferença de energia fornecida à substância e a um material de referência (termicamente estável), em função da temperatura, enquanto a substância e o material de referência são submetidos a uma programação controlada de temperatura. Existem duas configurações possíveis para aparelhos de DSC, ou seja, DSC com compensação de potência e DSC com fluxo de calor. Na primeira configuração a amostra e o material de referência são aquecidos em compartimentos separados em condições isotérmicas e submetidos à igual variação de potência de entrada no forno. Neste caso, os eventos são apresentados na curva DSC como picos, os ascendentes correspondem a processos endotérmicos e os descendentes a exotérmicos. No caso da DSC com fluxo de calor, a amostra e o material de referência são colocados em cápsulas idênticas, localizadas sobre o disco termoelétrico e aquecidas por uma única fonte de calor. As curvas DSC obtidas nesse sistema mostram picos ascendentes que caracterizam eventos exotérmicos, enquanto os descendentes eventos endotérmicos (Wendlandt, 1986; Machado, Matos, 2004).
Durante um processo de aquecimento ou resfriamento, uma amostra pode sofrer alterações de temperatura devido a eventos endotérmicos ou exotérmicos. Nesse caso, registra-se o fluxo de calor diferencial necessário para manter a amostra e o material de referência à mesma temperatura. Essa diferença de temperatura entre a amostra e o material de referência é devida a fenômenos químicos (decomposição, combustão) ou físicos [mudança de estado (fusão, sublimação) e transições cristalinas] e corresponde às transições de primeira ordem, caracterizada pela formação de picos nas curvas DTA/DSC. As transições de segunda ordem são caracterizadas pela variação da capacidade calorífica, sem variações de entalpia, portanto, não geram picos. Esse é o caso da transição vítrea, temperatura na qual se inicia o movimento de segmentos de uma cadeia polimérica, que é evidenciada nas curvas DTA/DSC por uma variação na linha base no sentido endotérmico. No caso de transições de primeira ordem, área contida sob o pico é representativa da variação de entalpia, DH, sofrida pela amostra (Wendlandt, 1986; Machado, Matos, 2004).
É importante a associação de dados provenientes dos ensaios de TG/DTG e DSC, para melhor caracterização de materiais, visto que a TG/DTG indica eventos térmicos relacionados a variações de massa, enquanto a DSC detecta eventos associados ou não à perda de massa. Por exemplo, eventos térmicos de origem física, como mudança de estado físico (fusão), podem ser inequivocamente atribuídos a partir da curva DSC, desde que na mesma faixa de temperatura não forem observados, nas curvas TG/DTG, eventos de perda de massa. Para melhor interpretação dos resultados e evitar possíveis equívocos é imprescindível a comparação das curvas TG/DTG e DSC obtidas nas mesmas condições experimentais (Wendlandt, 1986; Machado, Matos, 2004).
A análise térmica pode ser empregada para diferentes aplicações, como: identificação e análise da pureza de materiais; determinação de temperaturas e entalpias características de mudanças de estados físicos (fusão e vaporização); transformações de fases e reações e avaliação da cinética de decomposição térmica. A análise térmica não é apenas um método qualitativo, pois proporciona resultados quantitativos termodinâmicos e cinéticos quanto às propriedades dos materiais, podendo inclusive ser empregada para caracterizar material de síntese, com a vantagem do menor tempo de ensaio e a utilização de pequenas quantidades de amostras (Cammenga, Epple, 1995).
A análise térmica pode ser aplicada a uma gama extensa de materiais, como polímeros, substâncias sintéticas e naturais, alimentos, fármacos e produtos cosméticos em geral (Oliveira, Paola, Matos, 2004). No desenvolvimento de diversos estudos, é possível a associação de duas ou mais técnicas termoanalíticas, como por exemplo, a DTA ou a DSC com a TG. Em muitas situações, para a solução de problemas, é necessário associar os resultados de análise térmica a resultados obtidos por outras técnicas convencionais físico-química e analíticas (Matos, Machado, 2004).
ANÁLISE TÉRMICA APLICADA À COSMETOLOGIA
Alguns autores têm contribuído com trabalhos em que aplicam a análise térmica em estudos de matérias-primas de uso cosmético e à aplicação das várias técnicas termoanalíticas no desenvolvimento, produção e controle de produtos cosméticos. Inclusive, é possível caracterizar estruturas do fio do cabelo com objetivo de verificar o dano de tratamentos capilares e a eficácia de substâncias cosméticas aplicadas.
Matérias-primas
Somkaite (1973) realizou estudos termoanalíticos com o intuito de verificar o tipo de água presente na molécula do cloridrol e correlacionou a importância deste estudo nos processos industriais de manipulação desta matéria-prima cosmética, principalmente na forma de pó seco em aerosol, no controle da umidade ambiental.
Jeong et al. (2000) propuseram a melhoria das propriedades físico-químicas e biológicas de um despigmentante cutâneo em sistemas de inclusão em ciclodextrinas e seus derivados. Para a avaliação dos produtos complexados foram utilizados métodos analíticos e biológicos. Os autores, a partir dos resultados observados, sugeriram o uso da matéria-prima em produtos cosméticos.
Boldrini et al. (2006) realizaram estudos termoanalíticos utilizando TG e DSC da formação do complexo hidroquinona-b-ciclodextrina (HQ-b-CD). Os compostos foram preparados em suspensão tamponada de b-CD com a adição de HQ nas proporções de 1:1, 2:1, 3:1; 4:1 e mistura física 1:1. Os autores verificaram que a preparação via química, em comparação com a via física, levou à formação efetiva do composto de inclusão, HQ-b-CD.
Arcaro et al. (2006) verificaram a alteração cristalina da cafeína após o tratamento térmico (TG/DSC) e a análise por difratometria de raios X (DRX) e espectroscopia de absorção na região do infravermelho com transformada de Fourier (FTIR).
Quitosanas comerciais de diferentes origens foram caracterizadas por diferentes técnicas analíticas, verificando-se diferenças no grau de acetilação (ou desacetilação) das amostras. Os autores citaram a utilização da análise térmica (TG e DSC) neste estudo, o que permitiu acompanhar os processos de desidratação, decomposição e avaliação da temperatura de transição vítrea (TG) (Santos, Soares, Dockal, 2003).
Óleos (fixo e essencial), gorduras e ceras
Os óleos fixos e essenciais, gorduras, ceras e ácidos graxos livres são matérias-primas amplamente utilizadas na área cosmética em função de suas características de emoliência e hidratação da pele; fabricação de perfumes ou mesmo como fonte para síntese de outros produtos. Diversos trabalhos citaram a análise térmica como método de caracterização, de avaliação do comportamento térmico e da estabilidade, podendo ser empregada no controle de qualidade de matérias-primas e produtos.
Kaloustian, Pauli e Pastor (2000) analisaram aspectos químicos e térmicos de biopolímeros do óleo essencial de lavanda, citando aspectos econômicos da coleta das flores e da importância ambiental do trabalho em função da inflamabilidade do óleo. O risco de inflamabilidade pode ser observado por análise térmica em torno de 300 ºC. Verificaram, também, a presença de um evento exotérmico por DTA, perda de massa por TG, e determinação da velocidade máxima de decomposição por DTG. Segundo os autores em razões de aquecimento elevadas, em torno de 50 ºC/min, a decomposição térmica das partes aéreas da planta aumenta principalmente com o nível de celulose.
Brandão et al. (2006) caracterizaram o óleo de pequi, Caryocar brasiliensis Camb e avaliaram sua estabilidade térmica. TG e DTA monstraram um patamar de estabilidade até cerca de 180 ºC, apresentando a maior transição entálpica com Tpico de 356 ºC, devido à decomposição dos ácidos graxos.
Stank e Mulay (1996) demonstraram o uso de DSC para quantificar os componentes de uma mistura ternária de cera microcristalina, parafina e óleo mineral. O método apresentado utilizou tanto os dados da entalpia de cristalização quanto uma comparação das formas dos picos com referência ao DSC.
Solis-Fuentes e Durán-de-Bazúa (2003) caracterizaram mistura eutética de diferentes misturas de gorduras vegetais por meio da DSC.
As técnicas termoanalíticas TG/DTG, DSC e DTA nesta ordem de freqüência citada, predominaram nos seguintes trabalhos: óleo de pinho, (Oliveira et al., 2006), óleos de amburana, baru e da polpa do pequi (Garcia et al., 2006), óleo de junca (Cyperus esculentus) (Nascimento et al., 2006a), sebo bovino (Moura et al., 2006), ácidos graxos destilados de óleo de soja (Tupá et al., 2006) e óleo da faveleira (Cnidoscolus quercifolius) (Oliveira et al., 2006).
Filtros solares
Perioli et al. (2006) utilizaram a TG, DRX E DSC para caracterizar a inclusão do filtro solar, ácido sulfônico fenibenzilimidazol, em argila aniônica e concluiram que as hidrotalcitas foram boas matrizes para a incorporação do filtro solar.
Scalia, Villani e Casolari (1991) utilizaram a análise térmica, DTA e TGA, além de outros métodos analíticos para a comprovação da inclusão de filtro solar, 2-etil-hexil-p-dimetilaminobezoato, na cavidade de ciclodextrina.
Formas cosméticas
Pó
Luckewicz e Saccaro (1990) propuseram um método para a determinação quantitativa do dipalmitato de ascorbila em pós clareadores cosméticos empregando a DSC. Os resultados foram concordantes com outras metodologias, sendo de elaboração simples quando comparada com a cromatografia gasosa (CG) e cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) e, também, não se exigiu preparo prévio da amostra tampouco foi dependente da estabilidade da substância em solução.
A análise de minerais como amianto crisotila em talcos puros e contendo outros minerais foi citada por Luckewitcs (1975), que utilizou a técnica DTA em função da sua capacidade de informar sobre alterações cristalográficas e a caracterização mineral sob aquecimento. Segundo o autor, o método desenvolvido ofereceu várias vantagens em relação aos propostos em trabalhos anteriores, como por exemplo: rapidez, não exigência de atmosfera de hélio, especificidade, reprodutibilidade e não envolveu preparação da amostra, podendo ser facilmente aplicado nas análises rotineiras de controle de qualidade.
Emulsão, gel e pomada
Permal, Tamburic e Craig (1997) avaliaram a variação das propriedades físicas de amostras de cremes, sendo verificadas variações do perfil das curvas TG e na reologia, entre amostras analisadas, provenientes de diferentes fabricantes, apesar do conteúdo similar de água. Na análise de lotes de um mesmo fabricante, não foram verificadas variações acentuadas no perfil de TG, mas apenas das propriedades reológicas. Além destas informações não foram verificadas correlações entre a reologia e o perfil das curvas TG, apesar de os autores indicarem o uso da TG na avaliação da qualidade de cremes.
Fujimori, Matos e Kedor-Hackmann (1993) utilizaram a análise térmica na determinação quantitativa da água fixa interlamelar e da água dispersa em creme O/A, importante para definir as propriedades desta forma cosmética.
Com relação à estabilidade das emulsões, Silva et al. (1994) propuseram a aplicação da análise térmica na avaliação de emulsões O/A, sendo abordada a liberação de água a partir da elaboração de curvas TG, uma vez que a temperatura de liberação da água é uma primeira característica representativa da força de ligação da água. Foi sugerida a técnica para o desenvolvimento de formas de liberação controlada de água e a investigação de transição de fase e estabilidade de formulações.
O’Laughlin et al. (1989) utilizaram a análise térmica (DSC) e difração de raios X em temperaturas variáveis (DRXTV) para caracterizar e classificar várias fontes de monoestearato de glicerila (MEG). Estes ensaios foram capazes de avaliar as interferências de cada lote de matéria-prima no resultado final do produto, com relação à variação de consistência e liberação de água. Avaliaram, também, os efeitos nas propriedades físico-quimicas do MEG na estabilidade de cremes O/A.
Nascimento et al. (2006c) realizaram estudos térmicos de formulações cosméticas contendo extrato de própolis vermelha por TG e DSC-fotovisual. Empregando a técnica TG, avaliaram a porcentagem de água e de óleo na emulsão. Dados de DSC revelaram algumas modificações na fase dispersa a fim de acomodar e estabilizar o extrato de própolis nestes sistemas. Os autores indicaram os métodos termoanalíticos como preliminares no desenvolvimento de cosméticos contendo própolis vermelha.
Nascimento et al. (2006b) caracterizaram termicamente a cinética de evaporação de alguns tipos de cremes cosméticos usando TG e DSC. Os dados obtidos foram suficientes para a caracterização de diferentes tipos de cremes O/A, contendo diferentes proporções de água, agente emusificante e compostos lipofílicos. Isotermas por TG revelaram sensibilidade para avaliar a velocidade de evaporação de cremes cosméticos.
Kovacs et al. (2005) utilizaram a DSC para análise estrutural de emulsões múltiplas A/O/A no desenvolvimento de formulações envolvendo diferentes componentes, métodos de preparação e velocidade de agitação. Os autores verificaram que as emulsões múltiplas preparadas com agentes lipofílicos não polares contêm menos gotículas múltiplas do que aquelas contendo agentes polares, na mesma concentração de tensoativos.
Ugri-Hunyadvari e Eros (1979) investigaram o processo de formação da rede de solidificação de géis lipofílicos provenientes de fusão. Os autores destacaram a importância do processo de fusão e de solidificação, além das propriedades reológicas do sistema formado para os cálculos dos parâmetros da produção industrial. Neste trabalho o processo de fusão foi analisado utilizando a DTA.
Nishinari (1997) realizou estudo de reologia exploratória térmica (TSR) e de DSC da transição sol-gel em dispersões aquosas de polímeros e colóides de importância industrial, alguns, inclusive, de uso cosmético, tais como polissacarídeos de algas marinhas, microbianos e provenientes de plantas, além de proteínas globulares e fibrosas e álcool polivinílico. O autor estudou a cinética da gelatinização e concluiu que os dois métodos foram complementares nas informações.
Mothé et al. (2006) realizaram estudo termogravimétrico (TG/DTG) de um creme anticelulite à base de Gingko biloba, Centella asiática e Fucus vesiculosus. A técnica mostrou-se como ferramenta importante no estudo da estabilidade térmica e da composição do produto.
Guillen, Batista e Matos (2006a) desenvolveram trabalho com os seguintes objetivos: avaliar a estabilidade térmica de princípios ativos: ácido ascórbico, fosfato de ascorbil-magnésio (VC-PMG), dimetilaminoetanol (DMAE) base e sais de DMAE nas formas puras e confrontar os resultados com o comportamento térmico dessas substâncias incorporadas em géis e emulsões; propor um método de fabricação que assegure maior estabilidade dos ativos nas formas citadas; avaliar qual a substância apresenta maior estabilidade térmica na formulação e isoladamente, e verificar as interações existentes entre VC-PMG e o DMAE nos diversos sais utilizando TG, DTG e DSC.
Guillen, Batista e Matos (2006b) avaliaram o comportamento térmico das substâncias DMAE e ácido ascórbico isoladamente e incorporados em emulsões ou géis. Os autores utilizaram a DSC, a TG e DTG e os resultados foram importantes para confirmar o grau de pureza destas substâncias, além de contribuir para os estudos de pré-formulação. Segundo os autores, a previsão da estabilidade térmica dos componentes pode auxiliar no controle dos parâmetros dos processos industriais. Isoladamente, o ácido ascórbico foi a substância que apresentou a maior estabilidade.
Seves et al. (2001) caracterizaram filmes de celulose e polietilenoglicol por várias técnicas, inclusive por DSC, e sugeriram a aplicação do filme celulose-PEG nas áreas farmacêutica, médica e cosmética por ser um excipiente biocompatível com princípios ativos lipofílicos
Pérez et al. (2004) realizaram estudo termoanalítico de substâncias que atuam como filtros solares, isoladas e na forma de misturas, com objetivo de avaliar o comportamento térmico por TG e por DSC. A partir dos resultados obtidos, os autores concluíram que a decomposição térmica dos filtros solar despertou o interesse para posterior estudo por TG isotérmica, visando à determinação da meia-vida destes materiais. A técnica forneceu informações importantes quanto ao comportamento térmico dos filtros solares.
A análise térmica, juntamente com outros parâmetros analíticos, reologia, espectrofotometria no ultravioleta (UV) e cromatografia líquida de alta eficiência, foram utilizados no estudo de estabilidade de emulsões contendo filtros solares que absorveram nas regiões do UV e infravermelho. Neste trabalho, a DSC, TG e DTG foram utilizadas para verificar o comportamento térmico dos filtros solares, benzofenona-3 e p-metoxinamato de octila (Santoro, et al.,2000).
Solução
Villiers, Wurster e Narsai (1997) avaliaram a estabilidade dos ácidos glicólico e lático, ambos alfahidroxiácidos (AHAs), incorporados em sistemas aquosos submetidos à hidrólise ácida e decomposição térmica, inclusive associados aos conservantes: ácido sórbico e metilparabeno. Os autores utilizaram a DSC em estudo de pré-formulação, a CLAE e a espectrofotometria de absorção na região do ultravioleta (UV) para análises das substâncias em solução. Os autores verificaram a instabilidade dos conservantes em condições de baixo pH, quando combinados aos ácidos glicólico e lático isoladamente e a estabilidade dos AHAs a degradação térmica.
Ramos et al. (2004) avaliaram o comportamento térmico da solução de Jessner, ácido salicílico, láctico e resorcinol, utilizada no peeling químico, tendo como veículo o etanol 96º GL. As curvas TG/DTG da solução de Jessner em comparação com aquelas do ácido lático apresentaram comportamentos térmicos semelhantes entre as substâncias analisadas. Os perfis das curvas TG/DTG e DSC sugeriram a ocorrência de interações entre os princípios ativos no veículo escolhido. Os autores sugeriram a continuidade do estudo para melhor esclarecimento e caracterização do produto.
Sistema moldado – Batom
Oliveira, Paola e Matos (2001) avaliaram termicamente diferentes amostras comerciais de batons por TG/DTG, associada à espectrofotometria na região do infravermelho. Os autores verificaram que as técnicas analíticas foram úteis para o estudo das propriedades fisico-químicas e de estabilidade das preparações. Os resultados criaram perspectivas para o desenvolvimento e avaliação da qualidade de formulações baseadas na estabilidade térmica do produto, com a finalidade de auxiliar na predição do seu prazo de validade.
Oliveira, Paola e Matos (2004), empregando a análise térmica, caracterizaram diferentes amostras de matérias-primas para a fabricação de batons, sugerindo metodologia alternativa para a determinação do prazo de validade de um produto cosmético e avaliaram o sistema antioxidante de uma formulação de batom utilizando DSC e TG/DTG. Os autores verificaram que as curvas TG/DTG das matérias-primas apresentaram perfis distintos, que permitem a caracterização destes materiais. As curvas DSC mostraram eventos endotérmicos característicos do processo de fusão ou alguns casos de volatilização e eventos exotérmicos, devido à decomposição térmica do material. O prazo de validade para a amostra de batom, formulação estudada, foi de 2,4 anos. A partir da variação da temperatura onset determinada na curva TG, foi possível sugerir o melhor sistema antioxidante.
Análise capilar
Belleti et al. (2003) associaram a cromatografia a gás (CG) e a DSC para avaliar a hidratação da fibra capilar, que, também, foi avaliada pela análise sensorial. A DSC foi usada na determinação da força de ligação da água no cabelo, pela quantificação de energia requerida para removê-la, e a CG para quantificar a água removida. A análise sensorial não se correlacionou com a técnica analítica proposta.
Wortmann, Springob e Sendelbach (2002) investigaram por DSC, em uma faixa de 50 ºC a 190 ºC, amostras de cabelos, cosmeticamente tratados, em água e apresentaram descrição sobre os danos provocados na estrutura capilar decorrente de tratamentos como oxigenação e encacheamento, inclusive apresentando considerações cinéticas. Os autores concluiram que a DSC foi um método específico para determinar a cinética de danos provocados ao cabelo humano resultante dos tratamentos cosméticos.
Guthrie et al. (1995) caracterizam o cabelo tratado e colorido. Os autores avaliaram alguns fatores que influenciaram o tingimento do cabelo. Além disso, examinaram os cabelos coloridos, clareados e não tratados por várias técnicas analíticas, inclusive a DSC.
CONCLUSÕES
As técnicas termoanalíticas possuem grande importância no âmbito cosmético devido à grande variedade de aplicações. A análise térmica pode ser utilizada tanto no controle da matéria-prima, quanto do produto acabado, possuindo potencial de emprego no desenvolvimento e na caracterização de novos produtos, avaliação dos processos produtivos, além da análise capilar e outras aplicações. Nos últimos anos, muitos progressos foram realizados nesta área, contribuindo para o avanço da ciência cosmética.
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