Cosméticos verdes continuam avançando e devem crescer 10% nos próximos anos
Pesquisas apontam que consumidor está mais propício a compras sustentáveis e com valores bem definidos pelas marcas.
Produtos e iniciativas conscientes, que respeitam a natureza e levam em consideração os impactos de sua produção, estão ganhando cada vez mais espaço nas escolhas dos consumidores. Motivados principalmente pela geração millenium, os cosméticos verdes têm sido um dos nichos de maior crescimento nos últimos anos dentro do setor de Higiene e Beleza. Segundo a consultoria americana Grand View Research, o mercado de beleza verde, natural e orgânica deverá atingir um faturamento de US$ 25 bilhões até 2025, em todo o mundo.
No Brasil, estes produtos ainda correspondem a um mercado bastante segmentado, mas que demonstra boas perspectivas para os próximos cinco anos, um crescimento entre 5% e 10%. “É importante ressaltar que o brasileiro ainda está descobrindo os produtos naturais”, explica Juliana Bondança, consultora para o mercado de químicos, materiais e personal care da Factor-Kline, consultoria especializada em pesquisa de mercado.
A consultora acrescenta que, para um cosmético ser classificado como natural, precisa apresentar mais de 90% de ingredientes deste tipo em sua formulação, caso contrário, é considerado apenas com apelo verde ou sustentável. “Marcas que desejam investir nesse nicho estão apostando muito no lançamento de linhas paralelas com apelos naturais ou as chamadas free from, que não possuem sulfato na composição. Isso tem chamado a atenção do consumidor”. Em terras brasileiras, os produtos de origem natural focado em pele são os com maior aceitação no mercado, justamente pela busca de opções que ofereçam maior adaptabilidade.
Custo-benefício
Para criar um cosmético verde é necessário que se substitua ingredientes sintéticos por opções vegetais, porém nem todas as matérias-primas conseguem ser trocadas e, ainda assim, oferecer o mesmo resultado, por isso, para que o mercado avance ainda mais, é necessário um passo atrás do segmento de P&D. “Como ainda estamos mais presentes no mercado de apelo natural, as empresas apenas trocam alguns ingredientes e pronto, ela está entregando algo mais consciente, mas sabemos que precisamos mais que isso. É muito importante retornar a importância do P&D na formulação, com estudos e investimentos em novos ativos que irão entregar o mesmo sensorial de um produto sintético”, observa Juliana.
Em questão de preço, os valores de cosméticos verdes podem chegar ao dobro do formulado com ingredientes sintéticos, mas uma mudança no comportamento do consumidor já mostra que ele está cada dia mais propenso a pagar por esse benefício para si mesmo e para o meio ambiente. Em alguns anos, com o aumento de incentivos e novas matérias-primas para cosméticos naturais, espera-se que o preço fique mais competitivo, seguindo a lógica da oferta e demanda.
Brasil na vanguarda dos processos sustentáveis
Não só da matéria-prima vem a inovação do produto final, o importante é que toda a cadeia produtiva esteja alinhada com os processos mais sustentáveis, desde a produção ao descarte e reaproveitamento da embalagem. A empresa brasileira de embalagens Box Print foi a primeira gráfica da América Latina a receber o selo FSC de remanejo florestal, que comprova que a empresa possui a responsabilidade de repor na natureza as matérias-primas que retira. A companhia conquistou o título em 2005, período que, segundo Rodolpho Brugugnolle, administrador de contas da Box Print, as primeiras pesquisas já apontavam os cosméticos verdes como uma tendência para os anos seguintes.
“Sempre tivemos essa preocupação com a sustentabilidade. Nos últimos seis anos, implementamos um pacote de ações sustentáveis, como uso de energia limpa (desde 2016, a empresa usa energia de fontes renováveis), reduzimos 85% da água dos processos produtivos e nossas três unidades fabris possuem luzes de led. Esses processos, em conjunto, possibilitam que hoje entreguemos o cartucho Box Print Green”, conta o executivo. A empresa que opta pelo cartucho Green pode colocar na própria embalagem o selo FSC.
Os produtos com certificações sustentáveis possuem maior valor agregado e transmite confiança e credibilidade ao consumidor. “Estamos em um momento de transição do comportamento de consumo. Hoje, notamos maior engajamento e preocupação do consumidor com o meio ambiente. Isso demonstra uma oportunidade grandiosa de mercado de nicho, com toda a cadeia cosmética trabalhando em um bem comum, em uma economia circular”.
O mercado cosmético brasileiro tem grandes trunfos ao seu favor, pois já conta com tecnologia em insumos, matéria-prima e componentes, sem a necessidade de importação. Um bom exemplo é a celulose oriunda do Eucalipto, que, graças às condições de clima e solo, consegue realizar em seis anos todo o processo do plantio até a produção da celulose, sendo considerado o menor tempo para produção dessa matéria-prima em todo mundo. Os Estados Unidos produzem em cerca de oito anos e o mercado europeu, no período de dez anos. Isso mostra o forte potencial para a geração de fontes renováveis em solo brasileiro.
Negociações disruptivas
Não dá para falar em sustentabilidade sem pensar nas compensações que são necessárias ao meio-ambiente. Um dos objetivos das empresas com consciência verde, atualmente, é cumprir as metas de emissões de carbono, que são responsáveis pelo efeito estufa. Uma das principais ações das companhias é a compensação do carbono, já que às vezes não conseguem reduzir, por isso precisam neutralizar essa emissão, ou seja, reenviar oxigênio ao planeta por meio de plantio de árvores. A Box Print, por exemplo, conta que, em 2017, emitiu 5.347,44 toneladas de CO² e plantou 27.729 árvores, número três vezes maior que o necessário. Essa ‘sobra’ é chamada de crédito de carbono e, em breve, passará a ter valor para as empresas.
“Já existe a venda de crédito de carbono em alguns países, que é a venda desse excedente de oxigênio para as empresas que não conseguiram neutralizar suas emissões. Aqui no Brasil, ainda somos beneficiados por nosso ecossistema e vasta área verde, mas acredito que nos próximos cinco a dez anos também teremos essa medida por aqui. Inclusive, países passarão a exigir esses créditos no fechamento de transações internacionais”, conclui o administrador da Box Print.
Fonte: Talk Science