Muito além de um item corriqueiro na rotina de higiene, o desodorante conquistou um espaço nobre no ritual de cuidados pessoais dos brasileiros — e não à toa.

O Brasil ocupa hoje a segunda posição no ranking global de consumo, respondendo por quase 10% do mercado mundial, segundo a Euromonitor International.

Mas o que antes era um simples aliado contra suor e mau odor, vem se transformando em um verdadeiro protagonista no universo do autocuidado. A categoria evolui para acompanhar um consumidor mais exigente e atento aos múltiplos benefícios que um produto pode oferecer. Entre os destaques dessa nova geração de desodorantes, surgem fórmulas que vão além da proteção: entregam hidratação, ação clareadora, redução do crescimento de pelos, ativos antipoluição e fragrâncias sensoriais que elevam a experiência de uso.

Essa transformação é impulsionada não apenas pela inovação, mas também por um cenário climático desafiador. Desde 2023, o país tem enfrentado ondas de calor extremo, com sensações térmicas ultrapassando os 50°C em algumas regiões — efeito do fenômeno El Niño, que alterou drasticamente os padrões meteorológicos em todo o território nacional. Em novembro de 2023, por exemplo, as buscas por desodorantes no Google saltaram 23%, reflexo direto da busca por alívio em meio às altas temperaturas. Em 2024 não foi diferente, o país passou por 10 eventos de calor intenso em todas as regiões do país.

E o suor, definitivamente, não é um problema isolado. Segundo a Kantar, 39% dos brasileiros afirmam suar excessivamente, e 23% atribuem essa transpiração à ansiedade. A resposta do mercado? Produtos cada vez mais especializados, acessíveis e integrados à rotina — com penetração em mais de 95% dos lares do país. Em média, cada brasileiro consome 13 unidades de desodorante por ano, chegando a 19 em algumas regiões. Frequência que supera até mesmo a dos Estados Unidos, maior mercado em volume, mas com uma média de uso semanal inferior.

O spray aerossol segue sendo o formato preferido, mas os consumidores também exploram novas alternativas. As versões em creme, barra, bastão e sólido ganham espaço nas gôndolas e nas casas do brasileiros, assim como as formulações naturais, sem alumínio e com embalagens mais sustentáveis, como papelão, cortiça ou refis reutilizáveis — atendendo a uma demanda crescente por responsabilidade ambiental.

A evolução da categoria também passa pela sofisticação dos ingredientes. Ingredientes muito utilizados em produtos de cuidados com a pele facial, como por exemplo a niacinamida, já fazem parte da rotina das axilas, oferecendo benefícios de clareamento e uniformização da pele. A busca por produtos multifuncionais, suaves e práticos — que possam ser aplicados em qualquer lugar, a qualquer hora — abre portas para um novo portfólio de soluções.

Mais do que combater o suor, o desodorante se consolida como um verdadeiro item de cuidados e tratamento. E para as marcas, isso representa uma oportunidade estratégica: desenvolver fórmulas que não só entreguem performance, mas também promovam bem-estar, autoestima e experiências sensoriais únicas. Afinal, quando o autocuidado se transforma em prazer, o consumo deixa de ser rotina e vira escolha — consciente, inovadora e personalizada.

Por Elaine Gerchon, profissional com mais de 15 anos de experiência em estratégia, inteligência de mercado e desenvolvimento de negócios, com foco em setores como químicos e cuidados pessoais. Especialista em transformar dados em insights estratégicos, impulsionando decisões que fortalecem a competitividade e o crescimento sustentável. Com expertise em inteligência competitiva, tendências emergentes e comunicação estratégica, Elaine desenvolve soluções inovadoras para maximizar resultados e engajamento. Sua abordagem visa gerar resultados duradouros, acelerando inovação e crescimento no mercado da América do Sul.