Prestes a completar 70 anos, o Grupo Sabará – especializado no desenvolvimento de tecnologias, soluções e matérias-primas para os setores de tratamento de água no saneamento e na indústria, farmacêutico e de alimentos – anuncia que está de volta ao mercado de cosméticos, no qual atuou por quase três décadas por meio de sua empresa Beraca.
O retorno acontece quatro anos depois que a Beraca, fundada pelos sócios-diretores do Grupo Sabará, Marco Antônio e Ulisses Sabará, foi vendida para a Clariant. A partir de agora, porém, a presença no mercado cosmético ocorrerá por meio da Concepta Ingredients – referência no segmento de alimentos e bebidas -, que inaugurou recentemente uma nova planta de refino e extração na cidade de Valinhos (SP), a fim de triplicar a capacidade de produção de óleos e extratos vindos da biodiversidade brasileira.
Principal responsável pela movimentação, Ulisses Sabará é uma das maiores autoridades no assunto não apenas no Brasil, como em todo o mundo. Não à toa, ele foi homenageado pela ONU, em 2016, por promover os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em negócios e cadeias produtivas.
Abaixo, ele conta como a empresa se preparou para retornar em grande estilo ao mundo dos cosméticos. Confira:
Quais produtos a Concepta Ingredients já pode fornecer e quais investimentos foram feitos para regressar ao mercado cosmético?
Em produtos, já temos duas linhas. Uma delas, que sempre foi o nosso negócio, é de óleos oriundos de quatro biomas brasileiros: Amazônia, Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica. A outra é de extratos e está ligada à nova fábrica inaugurada em Valinhos, que nos permite produzir extratos de folhas, galhos, raízes, frutas e polpas.
Temos ainda uma planta que vai ser inaugurada, para a produção de óleos essenciais. Com isso, fechamos toda a plataforma de tecnologias: a parte lipídica, a de extratos e a de óleos essenciais. Posso dizer que trabalhamos com tudo que é da biodiversidade brasileira, lembrando que, na Beraca, exportávamos para 40 países, por meio de 26 distribuidores no mundo inteiro. Estamos, agora, retomando o mercado que já tivemos.
Isso significa que a Concepta Ingredients já conta com vários canais abertos?
Sim. Desde as cadeias produtivas, passando pelos métodos de produção, que só melhoramos, até as vendas. Já vendemos diretamente para alguns clientes no Brasil e estamos exportando para os Estados Unidos, o Canadá e vários países da Europa. Em abril, estive em Amsterdã, na In-Cosmetics Global, com meu filho André Sabará, atual CEO da Concepta Ingredients, e verificamos, entre diversos outros negócios, possíveis parceiros para nossa cadeia de distribuição.
Você acredita que esses ingredientes da biodiversidade brasileira têm grandes oportunidades de penetração em outros mercados?
Sim, grandes oportunidades. O mercado de naturais veio para ficar, não é uma tendência passageira. Neste momento, recebemos demanda de vários clientes antigos e outros novos para produtos naturais de alta qualidade com serviço e confiabilidade.
Percebemos que o mercado está desabastecido em produtos clássicos que sempre vendemos e em busca de inovações e produtos com características únicas e criativas que, eles sabem, nós podemos entregar.
Quais principais estratégias estão sendo desenvolvidas para promover os ingredientes da Concepta Ingredients no Brasil?
No início de junho, nós participamos da FCE Pharma, uma feira estratégica para nós, porque abrange tanto o mercado farmacêutico quanto o cosmético. Este é o primeiro movimento grande que fizemos. Nós estamos atendendo, principalmente, a uma demanda de vários clientes que já atendíamos.
A Concepta Ingredients tem capacidade de produção para atender a uma alta demanda que possa surgir?
A nossa planta em Valinhos é três vezes maior do que a planta que tínhamos lá na Amazônia, com uma capacidade de 300 toneladas ao mês. Inclusive, lançamos na FCE Pharma uma linha de óleos grau USP, que é bastante rigoroso e segue a farmacopeia americana, sendo tais produtos, em sua maioria, importados. Este standard de qualidade nos permite atender não somente ao exigente mercado farmacêutico, mas também ao cosmético e ao alimentício.
Você tem alguma meta para o negócio de cosméticos?
Esperamos ter, pelo menos, 20% de nosso faturamento dos próximos dois anos proveniente desse mercado.
Você pode citar algum produto exclusivo da Concepta Ingredients, que deve ser um grande sucesso de mercado?
Na área de óleos, estamos relançando o óleo de licuri, um coquinho que dá numa palmeira da Bahia. Ele tem características bastantes interessantes na substituição de silicone na aplicação para pele e cabelo. Outro produto que eu gostaria de destacar é o extrato de calêndula que, para desenvolver, começamos do zero. A gente foi atrás de pesquisadores e descobrimos a melhor calêndula em termos de riqueza. Nós plantamos, colhemos, estamos produzindo e lançamos na FCE Pharma. Ele tem um complexo que inclui desde óleo essencial, carotenos pró vitamina B, até flavonoides, o que permite que seja usado de várias maneiras, como em produtos para bebês, por exemplo. Além disso, possui ação calmante e outras propriedades. Temos certeza de que esse produto vai fazer bastante sucesso.
É importante ressaltar que nós garantimos as melhores práticas para lidar com o meio ambiente e a questão social, que são o nosso forte. Trabalhamos isso faz muito tempo. Quando a ONU lançou, em 2016, os SDG Pioneers, destacou pessoas no mundo inteiro que pudessem representar o pioneirismo em cada ODS. Eu fui escolhido para representar o ODS 15, que é de biodiversidade. Fazemos um trabalho muito sério e temos muitas premiações. Então, para nós, é bem legal voltar ao mundo dos cosméticos, temos muita expectativa de que vai ser algo relevante para todo o mercado.
O que diferencia a Concepta Ingredients de outras empresas nesse segmento?
Quem teve fábrica na Amazônia durante 23 anos, tem muita história para contar. Nós sempre trabalhamos com comunidades e cooperativas. Construímos uma imagem muito boa. Não foi fácil. Se o Brasil não é para amadores, imagina a Amazônia. Nós enfrentamos e vencemos todos os desafios que tivemos por lá, além de, atualmente, já produzirmos e comercializarmos produtos também do Cerrado e da Caatinga.
Então, temos muito o que entregar de conhecimento, de história e de confiabilidade, que é o que o mercado está buscando. Hoje, tem bastante gente no mercado, mas nós conseguimos ter o nosso lugar ao sol como protagonistas que fomos na parte de ingredientes, juntamente da Natura, nos produtos finais. Somos precursores, e esses precursores estão de volta! Talvez, a nossa maior importância seja agregar valor em todo processo. É bastante interessante, e eu gosto muito do que eu faço. Creio que a gente está só arranhando a superfície de tudo o que pode ser feito nesse Brasil em termos de biodiversidade.
Você tem algum sonho que ainda deseja realizar?
Sim, e já estamos trabalhando nisso, que é o melhor aproveitamento das espécies da Mata Atlântica. Alguns pesquisadores até alegam que ela é mais rica do que a Amazônia em diversidade de produtos. Então, um dos meus sonhos é trazer ao mercado, seja cosmético, de alimentos ou farmacêutico, produtos da Mata Atlântica, que a gente possa usar no dia a dia e, com isso, conservar esse importante bioma.
Trabalhamos sempre com produtos não madeireiros. São galhos, raízes, frutos, polpas e folhas, sem desmatar. Por exemplo, hoje, o nosso açaí de Juçara é uma espécie ameaçada. Ele é tão poderoso ou, mais até, do que o açaí da Amazônia e fica aqui na “nossa cara”. São pouquíssimos os players que estão trabalhando com isso, e nós podemos aproveitar toda essa riqueza, mantendo e resgatando a espécie. Meu sonho é entrar com esses produtos mercado afora.
Tenho muito orgulho de sermos atuantes e de trazermos ingredientes sustentáveis com excelência das sociobiodiversidades da Amazônia, do Cerrado e da Caatinga. E, tenho certeza, faremos o mesmo na Mata Atlântica.