Pandemia, desemprego e inflação são os principais entraves
Os esforços dos consumidores latino-americanos em comprar de forma sustentável vêm sendo desafiados pelos panoramas econômico e social deixados pela pandemia de Covid-19. É o que mostra a 4ª edição do estudo Who Cares, Who Does?, produzido pela Kantar, líder em dados, insights e consultoria, que correlaciona atitudes em torno da sustentabilidade ao comportamento de compra de alimentos, bebidas, cuidados pessoais e limpeza do lar (FMCG).
O estudo divide os consumidores em três grupos de relação com o meio ambiente: EcoDismissers, que têm pouco ou nenhum interesse pelos desafios ambientais do planeta e não estão fazendo nada para mudar esta postura; EcoConsiderers, que tomam algumas medidas para reduzir seu impacto ambiental; e EcoActives, que trabalham constantemente para diminuir os níveis de resíduos plásticos e para proteger o meio ambiente.
De acordo com a mais recente edição do relatório, o número de EcoActives na América Latina caiu 2% em relação a 2021, representando hoje 14% da população consumidora nessa região. Os EcoDismissers, por sua vez, são hoje 6% mais do que em 2021, totalizando 53% dos consumidores. Ainda que seja uma porcentagem menor, somando os 33% de latinos EcoConsiderers aos EcoActives, chega-se ao cenário de 44% do valor gasto com bens de consumo massivo nas mãos de pessoas que têm interesse pela causa ambiental.
O Brasil sempre esteve abaixo da média da América Latina e hoje essa diferença é maior. Em 2022 são menos brasileiros engajados e mais desinteressados pela questão do meio ambiente do que em 2021. Os actives representam atualmente apenas 5% dos consumidores, 3 pontos percentuais (p.p.) a menos do que em 2021; já os considerers hoje são 16%, -6,4 pontos percentuais (p.p.) do que no ano passado. A marca dos que têm pouco ou nenhum interesse pelo tema chegou a 80% este ano, um salto de +10,5 pontos percentuais (p.p.) em relação a 2021.
Esses números são reflexo do atual momento da economia. Com a inflação dos preços, agravada por fatores como desemprego, os latinos têm tido que fazer escolhas para equilibrar o orçamento, e acabam deixando de lado as preocupações com produtos sustentáveis, que geralmente são mais caros do que os que não têm esse apelo.
47% dos latinos estão totalmente de acordo com a afirmação de que é mais difícil agir de maneira responsável atualmente. Mas as empresas que conseguem se destacar têm em comum a linguagem que a população costuma entender: questões relacionadas com a água, embalagens produzidas de forma ecológica, reciclados ou biodegradáveis, assim como os Alimentos e Bebidas de origem vegetal, entre outros.
Além disso, os entrevistados são solicitados a classificar os temas que consideram mais importantes ao planeta. Na América Latina, pela primeira vez, a mudança climática e a água foram os aspectos mais relevantes no mesmo nível de preocupação.
Apesar de existir uma lacuna entre os valores sustentáveis e a compra real de produtos responsáveis, o consumidor de hoje está mais informado e consciente, por isso exige mais das empresas. Na América Latina, 30% dos entrevistados pensam que as empresas têm responsabilidade no cuidado com o meio ambiente.
No Brasil, apesar de a maioria dos consumidores responder que tem preocupação em comprar produtos mais sustentáveis, com embalagens que respeitam o meio ambiente (54,6%), produzidos localmente (43,2%) e com embalagens recicláveis (48,7%), no geral, menos de 30% dos consumidores tomam atitudes efetivas sobre plásticos em suas compras. Cerca de 44% tentam comprar embalagens ecologicamente corretas, mas apenas 9% evitam regularmente embalagens plásticas, por exemplo.
O estudo mostra que as empresas devem seguir com o propósito de cuidar do meio ambiente, já que os consumidores estão cada vez mais interessados em saber como sua marca está agindo. Marcas com históricos bem construídos vêm se destacando. Além disso, deve-se dar mais atenção aos EcoConsiderers, que representam 1/3 da população latina, um público que tem intenção de ser mais comprometido e já é simpático à causa, mas ainda encontra nos preços a principal barreira para consumir de forma sustentável.