Mercado de proteção solar prepara arrancada
Aposta em inovação é elevada para impulsionar a categoria
Por Estela Mendonça
De acordo com a Euromonitor, o mercado brasileiro de proteção solar fechou 2018 com vendas que atingiram R$ 3,43 bilhões, uma queda acumulada de mais de 9% em relação a 2013, quando totalizaram R$ 3,8 bilhões. Com o resultado, o Brasil perdeu a segunda posição para a China no ranking mundial, que é liderado pelos Estados Unidos.
Para os próximos anos, entretanto, as perspectivas são mais otimistas. A previsão da Euromonitor é que as vendas cheguem a R$ 4,78 bilhões em 2023, com uma média de crescimento anual de mais de 6%.
Dança de posições
Uma constatação interessante é que o mercado brasileiro de proteção solar nunca viu tantas transformações no ranking dos cinco maiores fabricantes em apenas um ano. Embora a Johnson & Johnson tenha permanecido na primeira posição, nas demais tudo mudou em 2018.
A L’Oréal superou a Biersdorf Nivea e assumiu a segunda posição. A Avon saiu do ranking e a Natura estreou na quinta posição. Com o anúncio da compra da Coppertone pela Biersdorf Nivea e da Avon pela Natura, anunciadas este mês, tudo pode mudar novamente no balanço da categoria deste ano.
Mobilização no início da cadeia
Enquanto categoria não decola, fornecedores de matérias-primas investem em P&D para oferecer mais proteção. Um exemplo é o filtro infravermelho Infraveil IT-100, desenvolvido pela Croda. “A luz infravermelha, que fica na faixa de comprimento de onda entre 700nm e 1000nm, também é uma fonte de preocupação crescente entre os consumidores, pois ela também pode causar danos na pele”, contextualiza Flavia Zanella, coordenadora de Marketing Personal Care Latam.
Ela explica que o grupo de P&D solar da Croda criou uma parceria com a Universidade de Newcastle, na Austrália, para investigar comprimentos de onda mais longos em termos de fotoproteção. A pesquisa sugere uma conexão entre a luz infravermelha-A e a produção de espécies reativas de oxigênio (ROS) nos fibroblastos, que contribuem para o estresse oxidativo e o envelhecimento prematuro. “Após uma dosagem equivalente a duas horas no sol do meio dia mediterrâneo, houve um aumento significativo na produção de ROS com luz solar total (UV, visível e infravermelho) em comparação com a exposição apenas em UV”.
Flavia ressalta que, entre as vantagens do Infraveil IT-100, sua tecnologia de dispersão patenteada causa branqueamento mínimo na pele, apesar do tamanho da partícula, e é de fácil manipulação. “Para o consumidor final, além da proteção contra o envelhecimento causado pelos raios infravermelhos e o efeito branco mínimo de aplicação na pele, o ingrediente também garante proteção da pele contra agentes externos”.
Para garantir sua superioridade, o Infraveil IT-100 foi comparado com o Solaveil CT-100 e Solaveil XT-100, outros filtros minerais da Croda. Todos os três são dispersões no mesmo excipiente (C12-15 Alky Benzoate), mas com variações no tamanho da partícula de TiO2, que resultam em efeitos diferenciados nas suas propriedades de absorção e espalhamento da radiação. Na figura abaixo, observa-se que, nas regiões de IRA e IRB, há uma reflexão reforçada de IR por parte do Infraveil em comparação com Solaveil.
Porcentagem de luz IRA que atravessou as formulações de teste contendo filtros UV e Infraveil IT-100
“Esse teste indica que o Infraveil IT-100 oferece benefícios de proteção significativos quando usado sozinho. Ao combiná-lo em formulações com filtros UV, suas propriedades são significativamente aprimoradas. Também foram realizados testes de validação independente no laboratório HelioScreen Labs (França), com resultados similares”, explica.
Proteção premiada
Outra inovação oferecida pela Croda é o filtro UVA e UVB Solaveil SpeXtra XT-40W, com uma pigmentação natural e proteção UV e HEV superior. “Nossa linha ganhadora de prêmios Solaveil SpeXtra é perfeita para produtos de proteção solar, dermocosméticos, maquiagem, para crianças e de filtros de amplo espectro e alto FPS, usando apenas um único ingrediente ativo. É a única linha baseada em dióxido de titânio do mercado que oferece proteção UVA e UVB”, destaca Flavia.
Segundo ela, trata-se de dispersão de base aquosa, natural, altamente estável e de fácil utilização, que oferece alta proteção UVA, alta eficácia de FPS e ótima aparência aos produtos. Além disso, atende as diretrizes europeias e do Mercosul para produtos com filtro solar, que estabelecem que o fator de proteção contra UVA (FPUVA) de uma formulação deve ser no mínimo um terço do FPS declarado no rótulo. “Solaveil XT-40W tem aprovação global e pode ser usado como o único ingrediente para atender as diretrizes europeias e do Mercosul pois é uma dispersão de filtro inorgânica que cria formulações com alto FPS e FPUVA igual a 1/3 do FPS”, ressalta, acrescentando acrescentando que ele é perfeito para formatos spray e para cosméticos com claims verdes, já que é validado como natural e orgânico pela Ecocert.
Os benefícios são alcançados porque o Solaveil XT-40W contém um TiO2 diferenciado, desenvolvido com o uso de inovadoras técnicas de síntese de partículas que geram forma e tamanho de partículas ideais para a eficácia UVA, além do controle da distribuição do tamanho de partículas. O resultado é um produto que oferece aumento da proteção UVA, aliado à alta eficácia de FPS típica de filtros solares de TiO2 tradicionais, sem excessivo branqueamento quando aplicado na pele.
Produtos tecnológicos
Amanda Omodei, diretora de marketing técnico da Focus Química, reforça que a radiação solar UV é responsável por 80% do envelhecimento da pele. Mesmo sendo a melhor forma de proteção solar e evitar danos profundos na pele, os protetores solares também apresentam desvantagens conhecidas, o que pode tornar uma oportunidade aos fabricantes de produtos cosméticos voltados a essa categoria de produtos pessoais, a fim de disponibilizar produtos mais tecnológicos e seguros para o mercado consumidor. A combinação de filtros é uma delas.
A associação de filtros tem por finalidade a obtenção de um alto FPS do produto final com amplo espectro de proteção, estabilidade, custo compatível e baixo potencial irritante e/ou alérgico. Amanda destaca a linha a linha Parsol® de filtros UV, da representada DSM, como uma solução completa para desenvolvimento de protetores solares, na combinação de filtros químicos e físicos, como o Parsol®1789 (Avobenzona), que pode ser utilizada em associação a outros filtros para aumentar a cobertura de formulação na faixa do UVA, bem como FPS de formulações. “Para garantir melhor estabilidade do Parsol® 1789, o filtro Parsol® 340 (Octocrileno) é associado para incremento de FPS e solubilização de outros filtros”, explica.
Outra forma de se conseguir o incremento do FPS, segundo ela, é trabalhar a associação de filtros hidrofílicos a lipofílicos. “O filtro hidrofílico Ácido Fenil Benzimidazol Sulfônico, o Parsol® HS, associado a filtros lipofílicos e/ou inorgânicos, desde que em pH adequado, pode levar ao aumento do FPS do produto final”, garante. Quando associado ao Parsol® SLX (Polysilicone-15), filtro UVB polimérico único composto por cromóforos anexados a uma estrutura de silicone, nota-se a melhora da performance sensorial e ganho de FPS em baixa concentração. É um excelente aliado em formulações de altos FPS, já que com apenas 2% na fase oleosa, pode incrementar até 20 pontos no FPS final.
Amanda também lembra que os filtros com baixos coeficientes de extinção molar que, apesar de pouca capacidade protetora, são úteis nas formulações, porque ajudam a solubilizar filtros orgânicos lipossolúveis. Ao mesmo tempo, contribuem com alguma absorção com efeito sinérgico, a exemplo do Parsol® 5000 e Parsol® EHS. “Além disso, a associação de filtros inorgânicos, como o Parsol® TX, filtro UVB inorgânico constituído por um núcleo 100% dióxido de titânio do tipo rutilo com um revestimento duplo muito rígido de sílica e dimethicone, permite formulações finais com baixo potencial alergênico e irritante, o que é potencialmente importante para formulações de produtos infantis para uso diário e para indivíduos com peles sensíveis e área de olhos”.
A escolha do emulsionante
Outra forma de melhorar a performance das formulações, de acordo com a diretora da Focus, é a escolha do emulsionante, que deve ser feita de maneira a não prejudicar a performance do produto final que diz respeito ao FPS, resistência à água, estabilidade da emulsão e irritação cutânea. “A escolha correta do emulsionante influencia, determinantemente, no FPS, uma vez que a formação de um filme uniforme e homogêneo sobre a pele é fundamental para a eficácia do produto. O emulsionante ideal deve apresentar boa espalhabilidade e aplicabilidade sobre o relevo cutâneo e ter menor viscosidade que contribua para aumentar o FPS”, recomenda, lembrando que o valor HLB/EHL (Equilíbrio hidrofílico lipofílico) do sistema emulsionante deve estar por volta de 6 para uma boa resistência a água e a tensão superficial dos componentes oleosos deverá ter valor semelhante, para ajudar na homogeneidade dos filtros na fórmula. Além disso, não deve comprometer a estabilidade espectofotométrica dos filtros e a quantidade de óleo (solvente) na formulação deverá estar na proporção de 30-50% da quantidade de filtros químicos.
Os tipos de emulsionantes mais convencionais utilizados para atender esses requisitos, pertencem à classe dos emulsionantes fosfatados, como o Amphisol® K, da DSM, pois, pelo perfil aniônico, são mais compatíveis com a pele e podem ser trabalhados no pH cutâneo. “O Amphisol® K também confere maior resistência à água, se comparado aos emulsionantes sulfatados, estearatos e emulsionantes não iônicos. Outra vantagem é sua capacidade de fornecer uma emulsão mais branca e brilhante, quando comparado às demais classes, além de produzir uma estrutura de emulsão fina com pequenas gotículas de óleo, tornando a emulsão muito mais estável e com melhor perfil sensorial”.
“Os cosméticos têm de produzir efeitos instantâneos e benefícios fortes para os consumidores, oferecendo texturas agradáveis e conforto maximizado. Para os fabricantes de cosméticos, isso proporciona uma maneira de aumentar a lealdade do consumidor cumprindo sua promessa através do que seus produtos realmente oferecem”, lembra Amanda, que indica a sílica diferenciada para aplicação em sun care da DSM Valvance™ Touch 210, modificador sensorial com certificação Ecocert, que consiste em partículas porosas esféricas de sílica de toque aveludado. “Proporciona um acabamento fosco imediato e maior conforto a formulações cosméticas, tais como diminuição da oleosidade, absorção do suor, redução de brilho, toque seco e efeito mate”.
Emoliente verde
“A adição de ingredientes-chave, como emolientes, pode melhorar a eficiência do fator de proteção solar. Se a solubilidade adequada dos filtros UV for mantida, um efeito de reforço SPF do sistema de proteção solar pode ser alcançado”, reforça Andrea Adams, gerente de Desenvolvimento de Produtos da MCassab, que destaca o Emolid® CC, um éster verde com alto poder de solvência para filtros solares químicos, da fabricante IQL. “Pode ser chamado de um super booster de FPS”.
Andrea explica que o Emolid® CC é um éster 100% vegetal modificado. Seu Inci name é coco-caprylate caprate, porém em nada se assemelha ao comumente utilizado no mercado. “Este éster tem um sensorial extraordinário: toque levemente aveludado durante a aplicação do produto na pele, seguido de toque seco com sensação volátil após completa absorção na pele. Ele equilibra o impacto sensorial dos filtros UV oleosos, melhorando a sensação na pele, além de atuar como um booster de FPS”, garante.
A executiva acrescenta que Emolid® CC é a escolha ideal para solubilização de filtros solares químicos, que tendem a recristalizar no produto acabado, como butyl methoxydibenzoylmethane, ethylhexyl triazone, benzofenona-3. “É uma excelente escolha para os formuladores no quesito estabilidade de formulação”.
As expectativas sensoriais do consumidor final também são atendidas pelas propriedades solubilizantes e seu booster de FPS do éster da IQL, segundo Andrea, como facilidade e rapidez de aplicação por conta da excelente espalhabilidade, toque macio e seco e sensação de pele hidratada, além de segurança de eficácia em relação ao FPS da formulação. “Emolid® CC atende as expectativas de cada vez maiores por formulações com ingredientes naturais que suportem claims verdes e veganos”.
A gerente da MCassab explica que um estudo in-vitro foi realizado em formulações de proteção solar com diferentes emolientes para verificar o efeito de reforço SPF dos produtos da IQL. A variação do FPS foi medida em função do emoliente utilizado na formulação, onde sempre foi mantida a mesma quantidade de filtros solares. Os resultados mostraram que o Emolid® CC aumentou o FPS da formulação.
Variação do SPF dependendo do emoliente na formulação
24 horas de proteção