Pesquisa da Kantar Worldpanel, que monitora 11,3 mil lares (representativos de 53 milhões de domicílios), mostra que a composição do carrinho de compras do brasileiro mudou e que, para incluir novas tendências de consumo na “cesta básica”, as famílias passaram a comprar menos ou com menos frequência outros itens tradicionais das prateleiras.
Segundo o levantamento, que analisou 96 categorias de alto giro no período de abril de 2016 a março deste ano, os produtos cujas vendas mais cresceram em unidades no último ano foram: chá líquido (+71%), complemento alimentar (+44%), cappuccino solúvel (+25%), molho para salada (+25%) e água de coco (19%).
Na outra ponta, as maiores quedas foram registradas nas vendas de petit suisse ou queijinhos (-39%), fraldas descartáveis (-28%), iogurte (-15%), lâminas de barbear (-12%) e inseticidas (-11%).
Para a diretora de Negócios e Marketing da Kantar, Christine Pereira, a pesquisa mostra que, além de trocas, está ocorrendo uma racionalização do consumo pelos brasileiros.
De acordo com a empresa de pesquisa e consultoria, o volume de compras dentro dessa cesta de categorias segue sem crescimento significativo desde 2015. No último ano, a alta média em número de unidades adquiridas foi de 2,8%.
“Em crises anteriores, buscava-se a marca de baixo preço. Agora, o bolso está muito mais apertado, mas o consumidor não quer abrir mão de categorias que estão facilitando a vida deles. Se ele enxergar um benefício claro, ele paga e racionaliza em outra coisa”, explica Christine.
Homens barbudos
No caso das lâminas, a racionalização significa fazer o produto durar mais, segundo a coordenadora da pesquisa. “Ela deixa de ser descartável e passa a ser usada mais vezes”, afirma Christine.
O gerente de lâminas da BIC, Rodrigo Iasi, confirma as tendências apontadas pela Kantar. Segundo ele, com o aumento do desemprego o brasileiro passou a fazer menos a barba. “As pessoas quando não estão trabalhando, tendem a cuidar menos da aparência e a fazer menos barba. De uma frequência de quase três vezes por semana, a média no país caiu para quase duas”, afirma.
Segundo ele, a queda do consumo de lâminas também reflete o maior número de homens que passaram a adotar barba e a tendência de fazer o corte em barbearias em vez da própria casa, mas segundo o executivo, o impacto desses fatores ainda é marginal.
A BIC afirma, no entanto, ter conseguido aumentar as suas vendas e sua participação no mercado de lâminas no último ano para 24%, em razão da procura por aparelhos de barbear mais baratos como os descartáveis.
Já a P&G, fabricante da líder de mercado Gillette, afirmou que a queda da categoria “está totalmente em linha com o mercado, seguindo as projeções referentes à queda no PIB (Produto Interno Bruto)” e avaliou que as mudanças na cesta de consumo do brasileiro são “consequência da transformação dos hábitos de compra”.
Menos bebês, menos fraldas
Já a queda do consumo de fraldas descartáveis estaria relacionada a outros fatores diferentes da racionalização e do dinheiro mais curto. Segundo a P&G, dona da marca líder de mercado Pampers, inovações têm permitido que “a absorção dos produtos seja tão superior a ponto de precisarem de um pouco menos de troca de fraldas”.
Segundo a fabricante, outra explicação para o volume menor de vendas é “a queda de natalidade, fator que vem sendo recorrente no Brasil”.
Dados sobre nascimentos no Brasil indicam que a epidemia de zika também pode ter impactado nos planos de gravidez no último ano. Levantamento do G1 mostrou uma redução do número de nascidos vivos a partir do segundo semestre de 2016 em todo o país, em comparação com os anos anteriores, precisamente 9 meses depois do início da emergência por zika e microcefalia no país. No comparativo do total de nascimentos no 2º semestre de 2016 ante o mesmo período de 2015, a queda foi de cerca de 10%.